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Pesquisa mostra o impacto dos 18 anos do Viagra na vida sexual do brasileiro

Ele chegou à maioridade, mudando a trajetória traçada pela biologia humana e dando novo sentido à vida sexual daqueles que chegam à melhor idade. O Viagra completa 18 anos no mercado, com o mérito de ter estendido a vida sexual do homem e colocado em pauta a discussão sobre sexualidade. A sociedade passou a falar mais abertamente sobre temas que, até então, mal chegavam aos consultórios médicos: a impotência sexual e a falta de orgasmo. Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira mostra que perder a ereção aflige 46,9% dos homens, e ejacular muito rápido é o temor de 42%, mas para 54,8% o maior pesadelo é não satisfazer a parceira.

Viagra

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O estudo, que traça um perfil do comportamento sexual e afetivo do brasileiro, mostra ainda que os homens fazem sexo só por atração, gostariam de ter mais de oito relações sexuais por semana e iniciam a vida sexual mais cedo. Já as mulheres têm menos parceiros sexuais, rejeitam relações sexuais baseadas apenas na atração e muitas almejam fazer sexo apenas três vezes por semana.

As diferenças que persistem entre os gêneros na forma de viver a própria sexualidade também foram observados na pesquisa Mosaico 2.0, conduzida pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, com apoio da Pfizer. O levantamento ouviu 3 mil participantes com idade entre 18 e 70 anos, divididos em cinco faixas etárias. Foram avaliados indivíduos de sete regiões metropolitanas do país: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal.

A nova pesquisa é uma versão atualizada do estudo Mosaico Brasil, de 2008, que se consolidou como o primeiro e maior levantamento sobre sexualidade já realizado no país até aquele momento, também coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo.

— Embora muita coisa tenha mudado e tenhamos a impressão de que hoje é mais natural falar sobre sexo, a sociedade ainda aborda essa temática com certa vulgaridade. Muitas mulheres temem julgamentos relacionados a certos comportamentos sexuais, o que acaba fazendo com que limitem o próprio prazer. Não é tão fácil nem tão rápido se libertar de padrões anteriormente impostos — diz a psiquiatra.

Em, média, o número de parceiros nos últimos 12 meses foi de dois para os homens e de um para as mulheres. E, apesar das várias diferenças comportamentais entre os gêneros, há um ponto em que a convergência é praticamente absoluta. Para 95,3% dos entrevistados o sexo é importante ou muito importante para a harmonia do casal, porcentagem que sobe para 96,2% entre os homens e fica em 94,5% para as mulheres. A faixa etária que mais respondeu que sexo é pouco ou nada importante para a harmonia do casal foi a mais jovem, de 18 a 25 anos.

— É uma impressão que o jovem tem que não procede. Os avanços na medicina, apoiados numa boa qualidade de vida, garantem uma vida sexual mais prolongada. Talvez os jovens achem que os pais não fazem mais sexo, o que a pesquisa mostra que não é verdade — comenta Carmita.

Se para os homens o maior temor quando vao para cama é não satisfazer a parceira, para elas, a principal preocupação é pegar uma DST (resposta dada por 45,9% delas); seguido por não satisfazer o parceiro (40,7%) e o medo de engravidar (35,2%).

O levantamento mostrou que os jovens usam mais camisinha do que os mais velhos. Se a porcentagem dos que usam sempre é de 36,2% na faixa dos 18 aos 25 anos; essa faixa cai gradativamente até chegar a 10,5% entre aqueles de 60 a 70 anos de idade.

— Chamo a atenção que 51,5% das pessoas casadas responderam que não usam camisinha, sendo que cerca de 20% relatam ter mais de uma parceria — ressalta Carmita.

Entre as dificuldades sexuais mais apontadas, a pesquisa mostrou que 32,4% apresentam problemas para ter e manter uma ereção. No entanto, 45,1% têm dificuldades de controlar a ejaculação. Além disso, 30,9% apresentam baixo desejo sexual. Para as mulheres, dificuldade para atingir o orgasmo, de leve à grave, foi a dificuldade apresentada por 43% das entrevistadas (especialmente as mais jovens). Dor no ato sexual foi relatado por 40,3% das mulheres. E 32,5% das mulheres sentem dificuldade em ter interesse por sexo (especialmente dos 26 aos 40 anos).

A falta de interesse por sexo se reflete na frequência com que os brasileiros vão para a cama. Enquanto as mulheres tendem a ter duas relações por semana; os homens tendem a ter três. Quanto mais velhos (acima de 60 anos), menor é essa frequência. A vontade de fazer sexo, no entanto, não acompanha a realidade da vida sexual e as expectativas entre homens e mulheres são muito diferentes. Para a pergunta “quantas vezes gostaria de ter sexo por semana”, a resposta mais escolhida pelas mulheres para representar sua expectativa é “3 vezes por semana”, com 16,7%, e a resposta mais escolhida pelos homens é “mais de 8 vezes”, com 26,8%.

— Observamos que é a mulher quem dá o tom na vida sexual do casal —diz a psiquiatra.

A relação atual da mulher com sua sexualidade foi um aspecto que chamou a atenção da psiquiatra em relação aos resultados obtidos em 2008, na primeira versão da pesquisa, a Mosaico 1.0.

— Comparando os dados, notamos que a mulher vem mudando o comportamento sexual. Hoje, aumentou a porcentagem das que fariam sexo só por atração. Além disso, a percentagem daquelas que responderam que estavam namorando caiu de 89% para 79%. A mulher começa a separar atividade erótica e efetiva. Se é bom ou não, não estamos fazendo juízo de valor — relata Carmita.

A pesquisa Mosaico 2.0 mostrou que 43,7% dos homens disseram que “com certeza” fazem sexo só por atração, ante 22,2% das mulheres. E 34,9% afirmaram acreditar que fariam. Outro dado que mostra essa mudança é a porcentagem de mulheres que diz separar vida afetiva e vida sexual: 51,5%. Entre os homens, 59,7% fazem essa distinção.

Não foi apenas a vida sexual dos casais que mudou a partir do lançamento de Viagra (citrato de sildenafila), em 1998. Os cuidados do homem com a própria saúde e até mesmo a relação médico-paciente foram profundamente impactados a partir do surgimento da pílula azul, a começar pela mudança na própria terminologia utilizada para designar as falhas de ereção. Considerado depreciativo e associado a uma ampla ideia de incapacidade, o termo impotência sexual foi então substituído por uma expressão mais específica e restrita às dificuldades de ereção, a disfunção erétil (DE).

— Existe uma era pré-Viagra e outra pós-Viagra. Após seu lançamento, não só a sociedade passou a falar mais sobre a disfunção erétil como também os homens começaram a entender que era possível tratar o problema, minimizando o constrangimento que sempre acompanhou a temática. Antes, o paciente chegava com queixas muito genéricas, como dores abdominais e incontinência urinária. Era muito difícil para esse homem falar sobre disfunção sexual, ele não abria essa informação nem mesmo para o médico – diz o urologista João Afif Abdo, mestre em urologia pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual (SLAMS).

Fonte: Jornal Extra